Viajar e não pertencer
Nessa diáspora
nesse desespero
tentar se encontrar é o custo mais alto
a cruz que se tenta carregar sem o apoio do medo
viajar por tantos mundos
até se encontrar
viajar para dentro de si mesmo
sem medo de encontrar um lugar pra descansar
viajei tanto que me perdi no entrementes
no entremundos, na transição, na máquina do tempo
estabeleço meu tempo nas vírgulas, nas pausas
a estrada virou o cerne
minha palavra está fora de contexto
me sinto distante
minha falta de experiência denuncia um passado
que ainda terá de ser vivido
sem nunca pertencer, se sentir por dentro
se sentir inteiro, se sentir movendo
sem viver o detalhe da existência que mora
no conforto do conhecer
sem a tradição do conhecimento
sem desconfiar do familiar
viver como estrangeiro, em busca de um não-lar
pra sempre, na estadia desse inconsequente e incongruente
idiossincrático parecer
a estrada virou o cerne
o cerne virou a estadia
o som do carro virou minha audição
as rodas viraram meus pés a tocar o chão
quando o motor começa, meus olhos se abrem
minha vida se resume ao próximo ponto de parada
tudo começa de novo, no próximo destino,
prometo parar
prometo que parei no mês que vem