User Experience (UX) na música
Para quem não sabe, “Combustão”, o primeiro single da minha banda UnderCore, acabou de sair. A música foi gravada em dois dias, depois de um longo processo de pré-produção. O motivo pelo qual eu a cito neste texto é que ela me ensinou algo muito valioso acerca de produção musical.
Mas, primeiro, vamos contextualizar.
Como um profissional de marketing, estou familiarizado com a ideia de experiência do usuário (UX). É um termo quente, que se torna cada vez mais relevante a cada nascer do sol. Por isso, também estou muito interessado em formas de aplicar esse conceito e suas implicações em áreas diferentes, como a música.
O UX é um termo que define um foco maior em sensações, em valores subjetivos, ao contrário do objetivo de seu irmão conceitual, o UI (interface do usuário). Enquanto o UI está preocupado com a forma como as pessoas resolvem seus problemas, o UX foca no que ele sente ao chegar ao resultado.
Em outras palavras, o UI oferece o mapa e um conjunto algorítmico de etapas para que uma pessoa chegue de um ponto A ao ponto B. Ao passo que o UX se preocupa com o que o viajante sentiu ao caminhar em direção ao objetivo. Ele se feriu? Ele sentiu que era muito longe, por isso, ficou frustrado?
Para o UX, mesmo que a pessoa tenha chegado ao ponto B, o objetivo pode não ter sido alcançado. Porque o foco dessa filosofia é proporcionar uma ótima experiência no processo. Proporcionar prazer, felicidade, satisfação. (perceba que só ao citar essas palavras, eu uso um pouco de outra aplicação do UX, o UX Writing, que foca nos efeitos que determinados termos produzem na escrita.)
Na música
Neste artigo que publiquei outro dia, eu falei sobre a importância da interpretação para os músicos e como esse fator ajuda a gerar uma boa experiência. Agora, explico omo isso pode ser alcançado com um feel específico. O segredo é User Experience. O UX é fundamental para tirar uma música do lugar-comum e permitir que ela converse diretamente com seus ouvintes.
Voltando à “Combustão”: durante o processo de mixagem da faixa, eu já tinha em mente o que queria para o resultado. Quando o engenheiro que trabalhou na música apresentou uma das versões, eu já sabia que era ideal e que as pessoas gostariam. Como eu soube disso? Pelo feel. Eu não foquei nas técnicas utilizadas ou nos timbres específicos de cada instrumento, mas no conjunto, no feel de todos os instrumentos em consonância.
A mixagem da faixa acabou gerando uma vibe semelhante a que eu sentia quando começamos a trabalhar nela, no estúdio. Essa vibe meio ao vivo e espontânea me agradou e me instigou a preferir aquela versão.
Isso me ensinou a parar de focar em aspectos meramente técnicos, como a marca de um instrumento ou a técnica X que foi usada. Comecei a prestar mais atenção ao feeling, à vibe que aquele conjunto de ideias gera. Afinal, é isso que vai proporcionar uma boa experiência quando o ouvinte conhecer o trabalho.